Cambalacho

Debruçados na boca das latas de lixo,
os brasileiros ignorados
remexem as sobras
com mãos nervosas e olhos delirantes,
enquanto são ludibriados
pela música da fome.
Na boca vazia de dentes,
salão ocioso, orquestra em greve,
a língua esponjosa
dança fora do ritmo
o tango dissonante
e chora desafinada
na companhia da saliva viúva.
Não há parceiro ideal para bailar esse cambalacho da vida
— nem Gardel.
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